terça-feira, 10 de abril de 2012

Entrevista com Aron Belinky, cordenador da ONG Vitae Civillis, criada um ano antes da Rio-92

Leiam os trechos da entrevista  dada por Aron Belinky,  ao jornal O Globo, revista Razão Social, em 14 de fevereiro de 2012.


"Embora a Rio + 20 vá competir com a crise econômica, considero que os líderes darão importãncia ao encontro."

O GLOBO: A Rio + 20 terá como tema a economia verde. O que é, afinal, economia verde?
ARON BELINKY: É uma expressão inadequada. Porque acaba não querendo dizer nada em si mesma, não explica nada. Podia ser azul, rosa...Ou seja, não é uma expressão autoexplicativa. Tanto que ela sempre vem acompanhada de adjetivos adicionais.No próprio rascunho zero que já se fez ´para a conferência, consta "economia verde no contexto da erradicação da pobreza e no desenvolvimento sustentável" para ficar claro que, quando se está falando sobre isso, está se falando sobre pressão econômica e social no sentido de inclusão e que deve ser economia a serviço do desenvolvimento sustentável.

O GLOBO: Qual a expectativa que vocês, de organizações da sociedade civil, estão tendo com relação à Rio + 20?
ARON BELINKY: Nossa expectativa é bem diferente do que era quando teve a Rio92. Naquela época não havia nenhum mecanismo claro de participação da sociedade civil. Hoje ainda está aquém do que a gente gostaria, mas já existe uma aprticipação maior nos debates prévios. O resultado da Rio +20 será um documento focado, curto, com uma agenda que não tem característica de esgotar tecnicamente os temas que estão em pauta nem de ser instrumento mandatário(...). É uma reunião de convergência, não é um ponto final, mas um ponto de balanço e de afinamento da agenda nos próximos anos. No final, será uma declaração que deverá ter não mais do que 20 páginas ( o rascunho está disponível no site da ONU - onu.org.br).

O GLOBO: Além disso, o que mais?
ARON BELINKY: Tem uma agenda oficial, uma semioficial e uma âutonoma.

O GLOBO: Explique melhor, por favor.
ARON BELINKY: A agenda oficial está dentro dos trãmites da ONU, vai resultar nesse documento de 20 páginas com alguns encaminhamentos bastante objetivos, por exemploa questão do consumo, de gênero, do uso de energia, tudo isso pode pegar várias diretrizes a serem implementadas depois da Conferência, sob responsabilidade da ONU. Há a recomendação para criação de um painel científico para desenvolver metodologia de mensuração do desenvolvimento que vai além do PIB e a negociação para a criação de convenções internacionais sobre acesso à informação, transparência e responsabilidade corporativa.

O GLOBO: A semioficial é uamagenda fora dos mecanismos da ONU?
ARON BELINKY: A semioficial são vários debatesque envolvem governos e outros atores sociais onde estão sendo discutidas iniciativas e diretrizes que não estão maduras o suficiente dentro do mecanismo de negociação formal da ONU, mas sobre as quais há demandas muito grandes e que podem ser assumidas seja pelos governos ou pelos atores. esse debates acontecerão no intervalo de quatro dias entre a pré-conferência e a conferência de alto nível e são de consenso. São oito temas, os oceanos são um deles.

O GLOBO: A agenda autônoma está nas mãos da sociedade civil?
ARON BELINKY: Exatamente. São as propostas da sociedade civil, seja no segmento popular ou empresarial, para o desenvolvimento sustentável. temos aí questões como economia solidária, direitos humanos. ao mesmo tempo vai ter o setor privado, que é também um processo autõnomo, propondo soluções.

O GLOBO: Quanto às empresas, o que se diz é que elas precisam investir cada vez mais em tecnologias para ajudar o mundo a trilhar os caminhos da economia verde de fato. É isso?
ARON BELINKY: Investimento em tecnologia é uma prte da solução, sim, mas não á aúnica. Evidentemente vamos precisar do melhor da tecnologia para poder usar os recursos naturais de maneira mais consciente(...). Precisa-se também redistribuir os limites planetários. Como já se sabe, se o mundo todo consumisse como os Estados Unidos, precisaríamos de várias vezes aquilo que a Terra é capaz de dar. E não tem solução tecnológica que possa viabilizar essse modelo perdulário para toido planeta. A questão da mobilidade urbana é o exemplo mais claro disso: posso usar a melhor tecnologia do mundo para fabricar carros, mas se continuar com o modelo de veículo individual, o trânsito vai parar.

O GLOBO: É comum, no final de cada conferência do meio ambiente, analistas serem ouvidos pelos jornais para fazerem uma avaliação. Para você, em que cenário será possível dizer que a Rio+20 cumpriu seu papel?
ARON BELINKY: Somente se sairmos de lá com a sensação de que temos uma agenda claramente definida sobre quais são os caminhos a serem seguidos, o que precisa ser feito em cada área e quais são nossos compromissos para avançar na direção de um desenvolvimento sustentável. Claro que não vai dar para ter compromissos detalhados, mas as diretrizes têm que ser claras, com prazos e acordos viculantes. Isso deve alimentar ações voluntárias e compromissos.


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